Nas fotos, se vê uma área desmatada no topo da serra de Tapuio. Essa área foi desmatada em 2010 sob especulação de criação de uma área de lazer. O projeto não teve êxito (graças a Deus!) mas o estrago ficou, uma grande área desmatada que deu entrada na mata para caçadores de pássaros e de orquídeas.
A área logo virou pasto para boi. A mata não foi permitida a voltar.
Agora vejo que a área limpa tem aumentado. E logo em baixo, já tem áreas abertas onde tinha árvores.
A mata está sumindo.
E a área não fica muito longe de onde estavam queimando nesses dias.
Tudo vai virar pasto.
Ou eucalipto.
Essa é uma área de recarga de nascentes. Como que isso se permite?
Pois tudo vale na busca de riqueza, mesmo se acaba destruindo a terra para todos. Riqueza agora, e deixa os problemas para depois.
Caro leitor (vocês três nobres almas que lêem as minhas arengas), vou falar sobre algo muito querido ao brasileiro, o consumo de carne.
Seu consumo exemplifica tudo que está errado neste país — a destruição total do meio ambiente para criar um animal importado para alimentar (e enriquecer) uns segmentos de uma população também importada que nunca aprendeu a se adaptar a essa terra.
Se criou até uma cultura em cima da produção e consumo de boi, uma cultura tipificada pelo churrasco, atividade que tem como finalidade não alimentar senão mostrar sucesso, riqueza, e domínio em oferecer uma comida economicamente e ecologicamente custosa.
Para satisfazer demandas culturais, egoístas, e desnecessárias, o Brasil está se destruindo, queimando sua terra, destruindo seu ambiente.
A produção e consumo de carne bovina simboliza tudo que está errado aqui neste país: o egoísmo, o consumismo, a manipulação pela elite das classes média e baixa em termos da sua definição de qualidade de vida, o domínio, a indiferença.
Segurar porta para outro? Jamais!
Andar na calçada? É para andar bem no meio para obrigar quem anda atrás a andar a sua velocidade (reconhecer a sua presença e importância) ou descer da calçada para passar.
Furar fila? Com certeza!
Ligar o som? É para o vizinho não só ouvir senão sentir até nos ossos cada nota!
Consumir carne em vastas quantidades mesmo se a sua produção destrói completamente o meio ambiente e deixa o futuro mais pobre? Sem dúvida!
(Já ouvi pessoas que me dizem que só comem um pouquinho. Já vi esse pouquinho. Não é tão pouco não. E mesmo se fosse, o produtor não produz só um pouquinho. Leva um boi inteiro para produzir o seu pouquinho.)
A produção de carne bovina, animal não nativo mas importado, destrói o país, deixando a terra desnutrida, seca, morta. Os produtores, para assegurar a sua riqueza, têm convencido tanto o governo ($$$) quanto o povo que seu consumo é necessário numa dieta equilibrada, que é necessário para a saúde. Nem nos Estados Unidos, maior produtor e consumidor de carne no mundo, se acredita mais nisso.
Conhecem as lendas do Rei Arturo? Não? Recomendo!
O Rei Arturo, fundador de Camelot, o rei que conseguiu unir o povo e a terra num reino de justiça, igualdade, e prosperidade, caiu em uma profunda depressão. A sua amada rainha, Guinevere, o traiu com Lancelot, seu cavaleiro mais leal, mais importante.
Deprimido e desorientado, virou egoísta, esqueceu do povo, e o reino caiu em caos. A terra não produzia mais. Fome e doença matavam o povo que brigava, sofria, morria.
O rei mandou seus cavaleiros a procurar um recurso de fora para salvar o reino, o Santo Graal. E os cavaleiros saíram na missão, de procurar e encontrar esse recurso alheio. Um por um, morriam. Só Percival, o cavaleiro mais novo, conseguiu. Voltou ao rei com o Santo Graal.
Diante do rei, sem nada nas mãos mas com lágrimas nos olhos, revelou o Santo Graal, que não era uma coisa. Era uma ideia.
O Rei e a Terra é um só.
O rei e a terra é um só.
Numa democracia, e o Brasil ainda é uma democracia, significa que o povo e a terra é um só.
Como sempre, o brasileiro quer ver mudanças no Outro (reforma política — o Santo Graal) sem ser responsável e modificar ou mudar seu próprio comportamento (reforma cultural – o verdadeiro Santo Graal).
O povo e a terra é um só, e o Brasil está queimando e se consumindo.
Nesse tempo de renovação, de renascença, é algo para pensar.
É hora de amar o Brasil. É hora de assumir uma identidade verdadeiramente brasileira. É hora de amar essa terra.
SALVE TAPUIO