Para considerar

Rant:  (inglês) arenga, discurso inflamado

Parece que sempre faço arenga. Não tenho nem a eloquência nem a influência de Arnaldo Jabor, o rei das arengas. Mas acredito que quem vê um problema e não fala é cúmplice. Não quero ser cúmplice.

Falo de consideração. Falo em agir, trabalhar, gerenciar não só visando cumprir seu dever sem se importar com as consequências para os outros, mas em agir levando em consideração o impacto que você tem na vida dos outros.

Consideração. Não é difícil.

Saio para a rua e o quê vejo? O movimento geral de trânsito, comércio, as atividades cotidianas. Vejo motoristas parando seus carros mas deixando o som ligado tão forte que paredes tremem, sem se importar que tem famílias morando em volta, sem se importar que tem outros tentando tratar de negócios em volta.

Vejo comerciantes lavando a calçada, lavando as entradas das lojas, jogando água por todos os lados. O pedestre é obrigado a descer para passar na rua, com os carros, ou passar no trecho molhado, arriscando escorregar, cair, se molhar ou pior. (Seria tão fácil lavar tudo às 6 ou 7 da manhã, quando o movimento é menor, mas o trabalhador não quer se incomodar. Melhor incomodar outros.)

Vejo grupinhos de pessoas parando no meio da calçada para conversar, indiferentes ao fluxo de humanidade em volta, obrigando quem quer passar a descer da calçada ou esperar. São os reis da calçada e quem quiser passar devem pedir licença.

Nas lojas, atendente atende a todos, inclusive seus amigos no celular. Quantas vezes tive que esperar enquanto o atendente falava com um amigo no telefone. (Eu não espero. Saio e raramente volto.) E enfim já conseguindo a atenção do atendente, chega outro cliente que começa a falar como se eu nem estivesse presente e o atendente vira para atendê-lo! Como se eu nem estivesse presente.

Pior no caixa quando a pessoa acaba de pagar mas não sai. Fica mexendo com o troco ou conversando com o caixa, que já chama o próximo que não tem nem espaço pra chegar.

Hoje entrei num mercado onde o empregado estava lavando o chão dentro e fora da loja. Às 8:30 da manhã! Cliente se vira! As cestas estavam ao lado da porta, molhadas. Ele tinha colocado a lixeira dentro da cesta. Quanta sensibilidade, né? Ou não queria que cliente usasse cesta, ou simplesmente não se importava com o cliente. Acho que é a segunda opção. (Coitado do cliente que vai usar aquela cesta depois, sem saber que está colocando sua comida numa cesta que guardava a lixeira.)

Vivo reclamando dessas coisas, e as pessoas vivem dizendo que não entendo o Brasil. O brasileiro reclama de corrupção, uma política suja, desigualdade, atendimento inadequado nos postos de saúde, etc. Dizem que não entendo, pois não tem como ter um povo civilizado com tanta corrupção, tanta indiferença dos políticos.

E eu diria que não tem como ter uma política limpa, civilizada, enquanto o próprio povo é mal educado, indiferente. Solidário em tempos de crise, mas fora crise, é cada um por si.

Uma sociedade civil não se impõe. Se faz.

São pequenas coisas, mas dessas pequenas coisas, uma nação civilizada se faz.

Faça sua parte.

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