“Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.”
Presidente John F. Kennedy, 1963
Carros passam nas ruas com o som tão forte que racha as paredes, dispara alarmes, estoura ouvidos. Lixo chove incessantemente das janelas, bolsos, mãos, e bocas do povo, amontoando nas ruas e rios e praias. Calçadas servem como estacionamento de carros, depósitos de material de construção; pedestre se vira! Precisa de um PM? Aguarde umas horas, pois tá lá pegando motos. Foi agredido e quer fazer BO? Pode voltar amanhã? Hoje a metade que veio trabalhar tá ocupada em ler jornal, tomar café.
O Brasil, o país do futuro que apesar da sua riqueza, nunca consegue ser o país do momento.
Saíram às ruas pelos milhares para exigir reconhecimento, exigir comprometimento e compromisso, exigir justiça.
JUSTIÇA?
A outra noite, às 21:45, ouvi um barulho tão forte aqui no apartamento que as mesas e paredes tremeram e eu senti uma onda de som tão forte que me deu vontade de vomitar. Um rapaz de carro bonito e novo estacionou na rua em baixo do apartamento e foi ver um assunto em algum lugar, deixando o som ligado e forte. O único motivo foi de incomodar, de mostrar que pode. Um carro da polícia passou como se fosse normal, certo, nada de que se preocupar.
(Com certeza o rapaz é um desses que reclama da DIlma, do PT, que estão estragando o país porque ameaçam o privilégio dele.)
Todos reivindicam pela justiça. Poucos querem de verdade. Todos reivindicam um compromisso social e político; poucos estão dispostos a se comprometer.
O sonho do rico é de continuar vivendo seu luxo nas costas e pelo suor do povo. O sonho da classe média é de fazer menos e receber mais; ser menos oprimido e oprimir mais. O sonho do pobre é de poder oprimir.
E todos recorrem à política sem entender que a política dee começar consigo mesmo. Todos já têm postado em algum momento em seu Facebook uma variação do seguinte: Você tem que ser a mudança que você procura. Pouquíssimos que vivem isso.
O Brasil é violento. Uns batem com armas, outros com seus braços, outros com seus cérebros cheios de inteligência. Até a humilde dona de casa bate com a sua presença, demorando para sair depois de pagar, ciente de que o próximo está esperando ela desocupar a caixa.
Como pode haver justiça, se nem se encontra no coração do povo?
Quem reclama é insultado, debochado, chamado de ranzinza, intolerante, rabugento. Na verdade, poucos querem acabar com a corrupção. Acabar com a corrupção significaria acabar com a possibilidade de realizar o sonho de ser quem oprime, ao invés de continuar sendo oprimido. E compartilhar justiça social, ninguém quer.
Amargura é amor decepcionado.