Mudanças

Há talvez 2 semanas o acadêmico e autor James Dyke, em uma reunião informal com uns membros do IPCC (o Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima, convocado pela ONU em 2007) perguntou saber quanto aquecimento podemos ver até o final do século (daqui a 78 anos).


Lembrem-se de que o objetivo é ficar abaixo de 1,5ºC acima da pré-industrial, limite determinado como o ponto máximo de aquecimento tolerado pelos ecossistemas atuais na Terra. Já estamos a 1,12ºC api.
O IPCC tende a ser conservador e reticente em suas respostas, otimista. Desdenha a histeria, exageros, e hipérbole.


Responderam sem hesitar, sem reticência, que se continuarmos com os sistemas e o consumo atuais, veremos no mínimo 3ºC api.


Pesquisem sobre as consequências de um aquecimento de 1,5ºC api. Procurem saber como seria o mundo a 2ºC api. Se tiverem coragem, pesquisem as consequências de um mundo a 3ºC.


James, ciente dessas consequências, perguntou: e a Amazônia? Os corais? As comunidades costeiras? As pessoas mais vulneráveis?

Um membro do IPCC respondeu, resignado, “Morrerão.”

Estamos à beira do colapso total dos ecossistemas, de agricultura, de civilização. E o ser humano continua suas brigas ridículas de controle de terras, controle de recursos. Brigamos sobre qual deus é mais verdadeiro e mais poderoso. Continuamos consumindo tudo na terra e justificamos esse consumo absurdo como necessário, divino, um direito humano.

Enchemos a barriga com a morte dessa terra e cheios da morte, rimos e dançamos, felizes e bêbados de nosso poder destrutivo, bêbados da morte.


Brigamos por motivos de etnia, cor, orientação sexual. Queremos acabar com quem ofende as nossas tradições, quem questiona ou desafia nossas práticas culturais. Lutamos pelo direito de nos armar,

Como se tudo disso se importasse.

Viraremos pó, inúteis, esquecidos. E nosso egoísmo, nossos preconceitos, nossas tradições e nossas práticas culturais que tanto defendemos, a nossa fé, deixarão o mundo morto.

Acham que isso não pode acontecer? Pesquisem o Dust Bowl. A minha avó viveu aquela época.

Como alcoólatras que tomam vitaminas e medicamentos e buscam remédios para melhorar as consequências de alcoolismo sem parar de beber, plantamos nossos ipês, participamos no movimento segunda sem carne, praticamos uma “espiritualidade” superficial, e exigimos respeito pelas etapas pequenas da nossa “viagem” de conscientização, tudo para evitar efetuar as mudanças realmente necessárias.

Estou relativamente velho. O corpo enfraquece, cânceres já brotam na pele, e reconheço que não estarei mais aqui quando chegar o pior. Mas muitos de vocês lendo agora estarão. Seus filhos vão ver o mundo mudar. Seus netos, se existirem, vão viver num mundo drasticamente diferente desse que agora conhecemos.

No Mahabharata, Iaccha perguntou ao Iudhisthira: Qual é o mais insensato? Iudhisthira respondeu: O ser humano vive cercado pela morte e mesmo assim se considera imortal.

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