Tem que (des)matar

O outro dia alguém em Tapuio me comentou que é necessário roçar mesmo onde não vai cultivar porque senão, dá cobra.

Respondi que não é problema, que onde tem mato, tem vida. “Cobra mata” ele falou.

Tem como argumentar com essa lógica? Cobra mata, tem que matar. Sapo é nojento, tem que matar. Pássaro voa livre, tem que engaiolar. Ouriço cacheiro lastima cachorro, tem que matar. Macaco come milho, tem que matar. Paca é deliciosa, tem que matar. Tatu é bom no prato, tem que matar. Lagarto é pra comer, tem que matar. Mão pelada pega galinha, tem que matar (galinha também é só pra matar). Árvore só ocupa espaço no pasto, tem que cortar, criar pasto pra boi engordar pra gente matar. Homem não celebra a vida. Tem cultura de morte, festeja a morte, ri com a morte, se alimenta da morte.

Como que vocês não cansam disso?! Tem tanta vida em volta, tanta maravilha viva! Tudo é Graça, menos a arrogância e desejo de homem. Eu não tenho problema nenhum com as cobras de Tapuio (ou qualquer outro lugar). Agora tenho grande problema com essa atitude que tudo é pra dominar, destruir, matar.

Salve Tapuio!

Área desmatada no topo de Tapuio
Cuidado! Pode ter uma cobra naquelas árvores ali. Ou sapinho. Melhor tirá-las.

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