Uma Ação Contra Destruição

Please don't let Tapuio become this.
Não deixe isso ser o futuro.

Na semana passada falei sobre a destruição de Tapuio e o desânimo que me causa: O desmatamento desenfreado, a caça incessante, uma sociedade indiferente, egoísta, e indisposta a fazer mudanças em seu estilo de vida para um bem maior (que neste caso seria não só a salvação  de Tapuio, senão também uma qualidade de vida melhor para todos na região).

Um amigo me falou que mesmo parecendo que ninguém ouve, tem quem ouve, quem lê. Pois é. Ninguém comenta, mas umas pessoas me perguntaram se tem solução.

Tem gente que acha que a solução resta com as entidades como IBAMA, IDAF, IEMA. Muitos acham que a solução é bater nesses destruidores, chamar polícia, envolve a lei. Tem que enfrentar com força, sem medo, sem piedade; confronto, força, armas, ahhhhhhhhhh!!!!!!!

Michel Foucault uma vez falou que criar um novo sistema usando as velhas e quebradas ferramentas do velho só resulta em recriar o mesmo sistema.

Faz sentido.

No caso de Tapuio, a solução não se encontra na estrutura existente. Confronto gera hostilidade. Hostilidade gera defesa de causas. Defesa de causas gera lados, desentendimentos, desânimo, sofrimento, etc etc etc.

Qual a solução? É viver ambientalismo.

Primeiro, olhe no espelho! Desmatamento em Tapuio, como na maioria dos morros e montanhas por aqui, é resultado de criação de pasto para gado. Desmatar par fazer pasto resulta em erosão, enfraquecimento da terra, enfraquecimento e até perda das nascentes, sedimentação no mar (e resultantes catástrofes lá), diminuição de biodiversidade resultando em extinção de flora e fauna, aumento de doenças, um aumento enorme em uso de agrotóxicos e antibióticos, e etc. Pergunte-se se aquele churrasco tão gostoso no fim de semana é sustentável, se realmente vale o custo ambiental. Você é um daqueles que acha que sem um monte de carne no prato no almoço, que vai enfraquecer, ficar anêmico, morrer? Informe-se! Pode ser que a carne não contribui à obesidade, que é resultado de um consumo excessivo de gordura e carboidratos simples junto com um estilo de vida sedentário. Mas seu consumo, além de ser antiético no mundo de hoje, contribui a várias doenças associadas à dieta. Basta gastar 10 minutos pesquisando na internet para ver o mau que faz o consumo de carne.

(Mas um ponto para consideração: por ser mais cara do que outras fontes de proteína, o consumo de carne é associado com riqueza, uma sociedade mais afluente. Governos, em particular governos de países em via de desenvolvimento, geralmente apoiam um aumento no consumo de carne como índice de melhoramento econômico da sociedade, como marca de progresso. “Antes, você comia ovo. Agora você come bife, que é melhor!” Só que não é melhor. Seu preço não reflete qualidade de proteína, senão custo da produção. É caro produzir carne. É custoso em termos de recursos. Seu corpo não liga se a fonte de proteína vem de bife, de ovo, ou de feijão e polenta. Mas seu corpo liga e muito se faltar carboidratos complexos, fibra, nutrientes que a carne não fornece. Vai, fala para seu corpo que a carne é melhor por ser mais cara! A resposta do corpo? Mau hálito, prisão de ventre, doenças do coração, do cérebro, dos rins….)

Então primeira etapa, reduza ou elimine a carne do seu prato.

Segundo, NÃO ACEITE CAÇA! O custo ambiental é alto demais! Você caro leitor que reclama tanto de corrupção, de escândalos, da falta de comprometimento com a lei está incentivando a criminalidade em aceitar caça. Os caçadores desta região agem fora da lei, desrespeitam a propriedade dos outros, caçam completamente indiferentes aos estragos que fazem ao meio ambiente. Aceitar caça é incentivar uma visão extremamente egoísta do mundo, uma visão em que tudo é medido em termos da sua utilidade ao indivíduo. É incentivar a criação de uma hierarquia egoísta que facilmente se transfere e se impõe na sociedade.

Terceiro, apareça em Tapuio, de forma responsável. Isso quer dizer sem acompanhamento de 3, 4, 15 cachorros. Deixe seu cachorro em casa, pois Tapuio não é terra para cachorro. Respeite o lugar e a propriedade dos outros. Não chegue lá gritando, jogando lixo para todos os lados, voando de moto estragando a estrada, arrancando bromélias, etc. Apareça lá sem deixar a sua marca. Você não é o componente mais importante da experiência de Tapuio. Quanto menor o seu impacto físico, quanto maior o seu impacto positivo ambiental. E mais, com a sua presença, caçador e desmatador terão vergonha de agir. Vai lá para tirar fotos. Vai lá para fazer pesquisas ambientais. Vai lá para estudar uma zona de transição. Vai lá para apreciar o lugar. Vai lá para presenciar, entender, estudar o impacto de atividades humanas no ambiente de Tapuio. (Ex.: Quando tem festa em Iconha, Piúma, Marataízes, o barulho pode ser tão forte em Tapuio que a própria montanha treme, o som ecoando. Qual o impacto desse barulho em termos da reprodução da fauna?)

Quarto, não esqueça a importância de vergonha como arma contra destruição. Todos me dizem que caçador não tem vergonha, desmatador não tem vergonha. Mas vejo que ninguém os envergonha. Vergonha como mecanismo de controle funciona! Imagine se um caçador de passarinhos tivesse que descer entre pessoas seguindo e vaiando a cada passo. Duvido que volte a caçar passarinhos!

 Você não precisa pregar ambientalismo igual fanático. Só precisa vivê-lo.

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